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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

E assim eu renasci...


         
          Era dia 17 de maio, me lembro bem, talvez nunca esqueça. Naquela época eu tinha cabelo grande e tinha uma pequena parte raspada, na lateral, hoje em dia isso é moda, mas naquele tempo era rebeldia extrema. Estávamos num acampamento de verão, eu sempre andei com grupinhos tarjados como perigosos, havia uma trilha abandonada e proibida, como só fazíamos coisas proibidas, melhor dizendo, coisas que nos desafiavam, entramos na mata por aquela trilhazinha.
          Tinha eu, Carol, Antônio e Marquinhos, cada um com uma mochila com comida e água. Escondidos, com uma alegria pra lá de estranha e uma coragem perigosa, seguimos em frente com o plano, quando fomos subindo encontramos uma placa dizendo cuidado, nem ligamos, isso não importava. Quando já era escuro decidimos dormir em baixo de uma árvore, que por sinal, havia algumas marcas de garras e belas flores.
          Carol tinha uma lanterna, colocamos ela bem no meio da rodinha, Marquinhos e Carol se afastaram de mim e do Antônio, eles tinham um caso, paixão, porque assumir e ser fiel não constava no relacionamento deles. Antônio sempre demonstrou muito afeto por mim, mas eu o amava muito, como amigo. Depois de algum tempo Marcos volta sozinho e ferido alegando que Carolina tinha sido atacada por uma formiga, muitas, várias, uma tropa delas, ele estava em pânico, dizia que tinha feito de tudo, mas que ela não sobreviveu.
          Ficamos atentos a tudo, e resolvemos voltar logo de manhã, antes disso tiramos onda com a cara dele, e demoramos um tempo para perceber que ele falava a verdade. Não pisquei o olho por um bom tempo, mas acabei dormindo no colo de Tônio. Ele também dormiu, e acordamos com um grito, era Marquinhos pedindo ajuda, tentamos segui-lo mas quando o vimos havia formigas o devorando, como se fosse uma balinha de goma, e aquilo não sai da minha cabeça até hoje, horrível.
          Pior ainda foi quando elas começaram a nos perseguir, e sem querer nos perdemos. Naquele momento me senti sem esperanças, como se fosse meu fim, minha, nossa sorte foi que Antônio sabia como se guiar pelo sol, e ele tinha prestado atenção quando subimos a trilha, ele me explicou o que deveríamos fazer, e alertou –me dizendo que eu deveria saber como voltar caso algo acontecesse com ele. E isso aconteceu, no meio do caminho, quando estávamos perto da trilha, elas voltaram e tentaram me atacar, ele me protegeu e falou para seguir em frente que ele voltaria logo depois. Corri como se fosse minha última tentativa de ficar viva, cheguei ao acampamento chorando, as pessoas estranharam, e logo começaram a perguntar sobre tudo, e ficamos ali até o resto da tarde.
          Mandaram um grupo de buscas para cima do morro, mas não encontraram nada. Faz uma semana que me ligaram dizendo que acharam os esqueletos dos meus colegas, hoje sou uma mulher tranquila, que não faço mais nada do que eu tenha total certeza das consequências. E meu aniversário é amanhã, e sempre me lembro disso, todas as noites, como se fosse uma saga, que me comove a cada vez que tudo se passa em minha mente, como Tônio foi que me salvou, e por conta disso passei a estudar mais sobre os pontos que podemos tomar de referência em relação ao sol, em sua homenagem e para toda vez que olhar para meu pulso, tatuei uma rosa dos ventos, que é o símbolo do meu segundo nascimento.  

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